Há momentos na vida que é mesmo preciso ser assim…
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E os dois conversavam horas a fio. Falavam das famílias, das casas, dos quintais, dos empregos, das férias...E todas as tardes quando o homem, da cama perto da janela, se sentava, passava o tempo todo a descrever, ao seu companheiro de quarto, todas as coisas que se passavam do lado de fora da janela.
O homem da cama ao lado começou a viver à espera desses períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado por toda a actividade que existia do outro lado da janela.
A janela dava para um
parque arborizado e com um lago. Patos e cisnes, aves e pássaros, esquilos, beijos
longos atrás das arvores e beijos curtos à frente da arvores, índios capitães
da malta em loucas correrias, certezas de amor nas mãos entrelaçadas, pessoas na
relva, ao sol, à sombra, a ler, a jogar a rir…um jogo espontâneo da bola… e lá
muito ao fundo a urbanidade da cidade.
Enquanto o homem, da
cama perto da janela, descrevia isto pormenorizadamente e pausadamente, o homem
no outro lado do quarto, fechava os olhos e imaginava a alegria da vida e da
natureza para lá daquelas paredes.
Um dia o homem, da cama
perto da janela, descreveu um desfile que ia a passar. Embora o outro homem não
conseguisse ouvir a banda, ele conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto
o homem da janela a retratava através de palavras bastante descritivas.
Uma manhã, a enfermeira chegou ao quarto, como habitualmente, e encontrou o corpo do homem perto da janela sem vida. Ficou em silêncio. Chamou os funcionários do hospital para que levassem o corpo. O outro homem sentiu. Chorou em silêncio a perca do amigo, do companheiro de quarto, e pediu à enfermeira se podia ser colocado na cama perto da janela.
Com dores e grande
esforço, o homem ergueu-se apoiado no cotovelo, para contemplar o parque. Lentamente
olhou para o lado de fora da janela... e viu uma parede de tijolos!
O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o seu companheiro de quarto lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela. A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem se quer conseguia ver nem a janela nem a parede.
“Talvez ele quisesse
apenas dar-lhe coragem...”
Autor desconhecido
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