Retiro



Com idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos, realizámos a dez de dezembro, um retiro espiritual para aprofundarmos o caminho da amizade da verdade e da vida. Foram momentos intensos, de reflexão e meditação sobre: quem somos, o que fazemos aqui, quem é Deus, porque é que isto é assim, porque não estou ali, quem és tu, e tu quem és…
Procurámos respostas que não tínhamos, mas que temos intenção de as ter, pois são determinantes para a continuidade de um caminho conventual, sidónico (bebida natural à base do fruto da videira que aumenta a espiritualidade e a comunhão) e bombai (bebida à base de ervas naturais, parecida com o gin, que faz realçar o fruto da videira).
Iniciámos o retiro às 23:17m. Às 23:45, saídos das trevas, vimos luz, uma luz intensa, não no fim, mas no inicio do túnel e começamos a meditação com a dinâmica musical,” Quem é que toca? Ou que são estes?”
O espaço estava repleto de existências harmoniosas e movimentos curvilíneos, que se desdobravam em brindes de néctares espirituais que nos levitavam para o encontro com o eu, o tu, o ele, o ela, o nós, o vós, o eles, e o elas.
O DJ (responsável pelo retiro) estava em êxtase, a dar o máximo!
Os sons imanados do DJ sempre a subir e o momento forte da comunicação aconteceu no wc.
Tenho que vos falar dos wcs daquele espaço espiritual.
O wc “dos gajos” tem um urinol, uma sanita e um lavatório, tudo em “open space”. O wc “das donas” tem uma sanita e um lavatório, também em “open space”. Até aqui nada de novo!
No wc “das donas” quando está lá uma “dona” é como se estivesse encerrado ou avariado. No wc “dos gajos” a porta está sempre encostada. Abrimos a porta e vimos as costas do aflitinho, encostamos a porta e esperamos…
Mas nem sempre é assim!
Estava eu, uma parte de mim virada para o urinol, e outra a parte de mim encostada à parede, (nos retiros conseguimos dividir-nos em partes) a descansar o esqueleto, e ouço, atrás, o som da música e um apelo aflito:
- Posso?
Olhei para trás…
-Podes, é claro, vai aí pó lado (sanita).
- Vodasse! Ainda bem que és compreensível!
- Atão, temos de ser uns pós outros e a cerveja é lixada, atrofia um gajo todo, um gajo chega aqui todo atrofiadinho…
- Não é nada. A cerveja é libertadora, liberta-me, alivia-me… vês tou muito melhor!
- Boa!. A cerveja Liberta!
A resposta filosófica que faltava: “ A cerveja liberta.” Só possível num retiro espiritual com wc em “open space”. No melhor bar do mundo!
Ao romper da aurora encontramos o caminho! Para casa!
E, Deus existe!

1 comentário:

C. Cardoso disse...

Uma boa leitura, uma boa gargalhada.
Um bom registo de espiritualidade, solidariedade e compreensão do outro: em acção.
Um bom Natal com tudo e todos.
Um grande abraço,
Sãozinha