Pés que falam

…Quando chegávamos ao topo da serra, era uma festa, uma espécie de vitória sobre o cansaço. Ao avistarmos a Basílica do Santuário. Era como se Nossa Senhora dissesse – Estou aqui! Já falta pouco!
E lá nos dirigíamos ansiosos por chegar e estar mais perto da Mãe de todos nós….Era emocionante. É, emocionante, eu sinto, ainda hoje, na chegada àquele local. Algumas pessoas, chegavam já bastante cansadas com feridas nos pés que obrigavam a cuidados de enfermagem no Santuário. Porém ninguém se queixava. Não digam que era masoquismo!!!!. Ás vezes, também eu tenho essa tentação, quando vejo as pessoas arrastando-se no chão do Santuário, cumprindo promessas, mas logo caio em mim e respeito-as muito e compreendo que é, antes, o efeito de uma fé sem limites, sincera, autentica, sem reservas. De facto, a Fé, no que quer que seja, é uma questão pessoal.
Só quem, alguma vez, viveu esse acontecimento tem a grata sensação de uma mística, uma paz uma esperança, uma convicção inabaláveis que fazem caminhar com dor que não dói, com calor que não torra, com chuva ou frio que não tolhem, em direcção aos braços da Mãe, A Mãe, que ouve um pedido de apoio, que aceita um agradecimento sincero por uma graça concedida, que enche de alento e força algum coração magoado pela doença, o infortúnio, a tristeza. A Mãe que espera por um filho que ainda não chegou. A Mãe que nos faz irmãos fraternos. Tão somente!!!
Blog Portocego
Uma das últimas vezes que estive em Fátima, fui à noitinha ao Santuário. Vi duas jovens senhoras que, pela maneira como trajavam, enfim, pela fisionomia, via-se que eram pessoas com umas certas possibilidades... Não eram do "povo". Vinham, a uma distância de uns trinta metros, a cumprir a sua promessa, de joelhos, desde lá de cima, da Cruz Alta. Uma sorriu; a outra, passei perto dela mas não me ligou.
O seu dinamismo era o que estava a fazer, e eu fiquei a meditar, quase envolvido na força daquele gesto... Porque era um gesto extraordinariamente envolvente. Tinha por detrás uma experiência que eu não sabia.
Cada uma daquelas senhoras, para chegar àquele momento de grande fé, até de grande exposição pública, numa esplanada quase vazia... Elas estavam ali, como diz a Escritura, "feitas espectáculo diante dos homens". Para elas houve certamente na vida um momento que foi profundamente marcado pelo sofrimento, pelo desejo, pela dúvida, pelo problema... por um deixar vir ao de cima a totalidade, a sua interioridade... E lançaram-se numa atitude de confiança e de esperança que envolveu mais o coração do que a razão.
D. Jose Policarpo
arq 04.05.07 12:02

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