O WC

Há lugares fantásticos e deslumbrantes, que depois de visitados, fazem parte de nós e das nossas memórias. Num regresso a esses lugares, a maior parte das vezes, já não os vimos nem os sentimos como a primeira vez, é quase sempre assim com todos esses lugares. Todos???!!! Não !!!. Há um que é eterno e cada visita é uma emoção. O WC.
O WC, ou casinha, ou banheiro, ou cagadeira, ou latrina, ou privado, ou casa de banho, ou retretes (como nas estações antigas da cp), são termos para referenciar um lugar de prazer, alivio e satisfação. Apertadinhos, à rasquinha, ou com hora marcada é um lugar de visita, bidiária, diária ou quando calha, com um ambiente natural, sem corantes nem conservantes.
Um lugar solitário onde a vaidade e o orgulho se acaba e os presidentes das nações, das câmaras e das juntas de freguesia, das associações e dos condomínios, os reis e as rainhas, doutores e engenheiros, administradores e directores, ateus e religiosos, carpinteiros, serralheiros, motoristas, professores, vereadores, deputados, actores, ministros… todos fazem força, esbugalham os olhos, ficam vermelhos “comum” chouriço, amarelos como os nipónicos e se cagam como uns heróis.
Ah, pois é!!!... Naquele lugarzinho, acaba-se o orgulho e o poder, e, como diz Bertol Brecht “Lugar humilde: nele saberás bem, que não passas de um homem que nada retém. Trouxe para aqui o Bertolt Brecht para dar um pouco de dignidade a isto.
O processo
A malta chega à rasquinha (ás vezes) e zás a primeira remessa do que resta do bolo alimentar é um tiro ou tiroteio. Depois, enquanto se aguarda pela segunda remessa, é o momento de entretenimento.
As revistas cor-de-rosa são do melhor, o conteúdo destas enquadra-se perfeitamente com o local e tem montes de retratos e curiosidades da tanga, mesmo aquelas as do ano 2004. Os Jornais obrigam a uma grande abertura dos braços, a dobra-los e vinca-los para as folhas não caírem, borram os dedos, letra pequenina, não são muito aconselháveis.
Depois é giro quando estamos a meio de um artiogo da tanga e lá vem a segunda remessa do bolo alimentar, um gajo faz uma forcinha de ajuda e já não consegue ler mais nada. Caso espirres é o contrário este é que interrompe a descarga do bolo alimentar. Engraçado o espirrar tem mais poder que o cagar. Hoje o portátil já está a ganhar quota de mercado às tradicionais revistas.
Os imponderáveis
Uma pessoa chega cheinha de boas intenções, aflitinha, fecha a porta, senta-se e o tampo está molhado, ficamos logo a “elogiar” o ultimo residente do wc. E como se não bastasse… ploc…ploc..ploc…pufffff...puffff... e a agua a pinchar pó cu. Boa, isto tá a correr bem, piiiiiiiiiiii. Se comesses fibras, sopa e fruta evitavas o chuveirinho pó rabo.
Mas a coisa compõe-se até ao momento em que olhamos para o lado e vimos um tubo de cartão sem ponta de papel. Fechas os olhos abanas a cabeça e sai um piiiiiiiiiiiiii. Voltas a olhar para o tubinho, para confirmar o teu problema e mais um piiiiiiiiiiii.
Se estiveres em casa berras duas vezes, porque ninguém ouve à primeira, ou vais de cu no ar ao sítio do papel. Se estiveres na pública, é mais complicado, começas logo a remexer os bolsos ou a carteira a ver o que te pode solucionar o problema, ou um lenço de papel todo amarrotado, que desamarrotas ou descolas, com todo o cuidado, ou papeis do multibanco, que amarrotas para ficarem mais suaves, ou recibos de compras, ou, se fumas, guardas os cigarros no bolso e pronto, dá para desenrascar. Como um verdadeiro lusitano, certamente, não vai faltar uma solução para desenrascanço da situação.
Uma diferença entre eles e elas é o acto de, como se diz na giria, "mudar a água às azeitonas" (mijinha), para o público feminino pouca diferença faz de uma cagadinha, sentam-se e pronto. O público masculino fá-lo em pé mas com algum ritual: uns é para o meio da sanita a ouvir o barulho na água, outros é em volta da água, sem tocar nesta, em circulos, tipo poço da morte, com mestria e sem barulho. E quando há um "ponto negro" na sanita ou uma mosca, então é que é, há que fazer pontaria para o ponto ou liquidar a mosca, nos urinóis que teem bolas desinfectantes o objectivo é po-las a saltar. Uma diversão.
Um gajo entupido é um gajo diminuido, visita o WC e sais aumentativo.


1 comentário:

Isabel disse...

Gostei deste artigo...não foste pra junta, mas ainda podes ir para jornalista!!!!