O Barbeiro
O Barbeiro era herança do pai. Foi o pai que nos levou pela primeira vez ao barbeiro e continuámos a ir ao barbeiro do pai.
O senhor barbeiro ouvia-nos, dava-nos conselhos, brincava connosco, era uma extensão quase familiar. Sempre muito bem penteado, de bata branca ou azul clarinho, não dava descanso à tesoura tic,tic,tic,tic,tic, ao pente e aos toques na cabeça, excepto para verificar a esquadria do cabelo com os contornos da pele, ou quando levantava os braços, com a tesoura e o pente no ar, para partilhar uma conversa vinda dos espetadores laterais ou da retaguarda..
A barbearia era o palco onde actuava o barbeiro. Na bancada em pedra, com os espelhos por cima em frente às cadeiras de ferro, estavam as ferramentas do barbeiro. Os posters das meninas com o busto a “três dimensões”, os posters dos clubes da bola, uma gaiola com o periquito e um rádio de madeira que chiava ao ligar óóiiiiiiiiii….iioonnnn… até aquecer as válvulas, devidamente sintonizado, na RR, para ouvir a “Boooola Branca, edição da tarde”, umas cadeiras ou um sofá de napa compunham o cenário deste palco verdadeiramente masculino.
Um espaço sem estímulos "apaneleirados" ou "abixanados". Os assuntos eram: mulheres, meninas, meninas e mulheres, carros, motas, futebol, politica (depois do 25 de Abril e ocasionalmente) vinhos e petiscos, conversas de homens. Os jornais para a espera de vez na cadeira do barbeiro eram o JN, a Bola ou o Record.
Os cortes de cabelo não ofereciam qualquer dificuldade “…não tocar no colarinho da camisa e por cima das orelhas, à escovinha”. Aos garotos um caldinho (aparadela pelas pontas aguentava mais uns tempos e era mais barato) ou à tigela, (tipo tigela na cabeça e corta em volta) ou como o pai, à escovinha e: “não à mas, nem meio mas…”. E para cortar a barba podes ver aqui.
As senhoras iam cabeleireiro dar à língua, ver a crónica feminina, a Flama ou o Corin Telhado e também tratar do cabelo…
O Cabeleireiro "Unisexo"
Com as modernices globais apareceu o “Cabeleireiro Unisexo”. E começa bem!... Começa logo por estar mal escrito “unisexo”, com um “s” lê-se “z”, portanto para estar bem escrito devia ser “Unissexo”.
Mas há aqui outra coisa que não entendo. Se é “Unissexo”, devia ser para malta do mesmo sexo. Certo? Mas não!!!...
Aquilo é tudo à molhada, é uma caldeirada de todos os sexos: masculino, feminino e outros, de outras orientações ou desorientações sexuais. Com muitos tiques e toques, de conversas casuais, formais e pouco informais, sobre correntes sociais e virtuais que discutem os cortes de cabelo groumet dos totós, das tátás, os implantes das mamas e os divórcios das revistas cor-de-rosa, que levam o gato e o cão ao veterinário porque andam com um desarranjo “intestinário”… e, enquanto olham os penteados onda choc nas paredes, tratam das unhas e dos calos com os rolos enrolados e entalados.
É por estas e por outras, que anda tudo com a candeia às avessas. Ainda se lhe chamassem Multissexo ou Plurissexo, ainda vá que não vá, sempre dava a ideia de uma festa brutal, com corte de cabelo incluído.
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