Caminho Santiago - Finisterra 2007


  • Caminho: Santiago – Fisterra/Muxia
  • Período: 1, 2, 3, 4 de Setembro de 2007
  • Distancia: 107 Km
  • Transporte: No popó do Tó - Aveiró / Santiagó
  • Peregrinos: isabel+sandra+olinda+tozé+zé.


Como tínhamos feito no ano anterior o caminho Português a partir de Valença até Santiago, impunha-se agora acabar a rota jacobea com a ida a Finisterra. Assim com duas desistências e uma aquisição, a Olinda que recebeu a alcunha de “penetra” porque meteu cunhas e tafifes a tudo e a todos para que conseguisse ir connosco. E conseguiu!... Lá fomos nas pegadas celtas ao fim da terra para nos encontrarmos com o renascer da vida.
Etapas Como habitualmente mais uma alteração, em vez de irmos a Finisterra e depois a Muxia, como dizem os livros, fizemos ao contrário primeiro fomos a Muxia e depois acabamos mesmo no fim da terra (Finisterra). Opções!!!... Às vezes não são as melhores, mas à que aguentar…

  1. Santiago – Negreira – 20 Km

  2. Negreira – Oliveiroa – 34 Km

  3. Oliveiroa – Muxia – 33 Km

  4. Muxia – Finisterra – 20 Km

Santiago – Negreira Chegamos a Santiago, estacionamos o popó do tó no parquó, fómos ao turismó, porque fica sempre bem ir ao turismó, demos o Abraço ao Apóstoló, falamos ao Mestre Mateus e partimos para Finisterra. Atafulhado de comida que a Milinha fez questão de preparar, obrigou-me, lá longe, a comer mais que o esperado e em menos tempo do que o habitual, para retirar peso à mochila e às minhas costas…

Dia dedicado às crianças, a todas as crianças. Um dia quente, aliás nós vamos em Setembro por causa das temperaturas amenas…Na rua das Hortas, a sair de Santiago, conversava com a Olinda e tinha-lhe dito que: “Deus dá-nos tudo o que precisamos…”, nisto olho para o chão e à minha frente uma banana “novinha em folha”, vês Linda é como te digo, ofereci-lhe, ela não quis e tive que fazer a vontade de Deus, comi-a…é simbólico mas estarmos abertos a Deus é sabermos saborear o que a vida nos oferece…

Um percurso agradável com motivos de interesse histórico e naturais. “Aconselho a parar e desfrutar da beleza natural do caminho em Pontemaceira, onde tem uma paisagem natural muito bonita e onde podemos saborear um bom banho, caso haja tempo. Antes deste paraíso convêm não efectuar a subida da Costa Forte em correrias loucas, para não perturbar o ambiente florestal, daí termos uns banquinhos devidamente situados num espaço estudado de modo a nos podermos sentar e sentirmos o bater do coração.
Após uma picadela de uma vespa no meu braço, imediatamente tratada com uma moeda de 5 cêntimos, (tem que ser destas 5, 2 ou 1 cêntimo) repousamos um pouco para comer e recuperar dos bancos de 20 em 20 metros. Chegados a Negreira, local pequeno mas agradável, encontramos um albergue superlotado de gente de todos os cantos da terra., com montes de botas todas perfiladinhas no exterior do albergue, por causa do cheiro a queijo… Bem recebidos fomos instalados numa supertenda no exterior do albergue.
Tratamos de nós e fomos jantar, bifes com batatas fritas e vinho ribeiro xovem. Bem jantados e bebidos, já amigos de quatro espanhóis de Alicante, com fotografias e tudo, fomos para o reservado do albergue descansar… ai descansar… foi um fartote de riso, de anedotas e de sons falateláicos, de muita conversa animada de quem está, vai, no caminho…e a Linda fez queixa de nós ao marido…gostei das botas perfiladinhas e agora, atadinhas…

Negreira – Oliveiroa Dia dedicado aos doentes; enfermos e pessoas em sofrimento: E que dia!!!.... Muitas subidas, muito asfalto, muito calor, muita sede, muito cheiro a bosta de vaca (zona de vacarias) um dia de esforço, de muito esforço, sem bares ou cafés, mas com uma paisagem verde muito verde e de vários verdes. Encontramos um café onde comemos uns “bocadillos” (sandes) servidos, quase por favor…feitios…

Descansamos um pouco os pés e o corpo, na sombra da parede do café e partimos. A chegada a Oliveiroa, já com a água como companheira, torna-se mais agradável. Oliveira é uma aldeia toda em granito, muito bonita e o albergue é a recuperação de várias casas em granito e estábulos das vacas. Um espanto de albergue e do sitio, adorei… mesmo com o cheirinho permanente a vaquinha. Jantamos num bonito e confortável restaurante, o único, era pó caro, mas bem conversadinho com o dono fez-nos um preço agradável. Comemos caldo galego, idêntico ao cozido à portuguesa, e vinho também galego e pa sobremesa uma sopa galega. Juntos com os espanhóis de Alicante terminamos o dia. No albergue ouvimos Kizomboa da Sandra e mandaram-nos calar, para poderem dormir…mais feitios… à noite estamos sempre prontos pá farra. A Linda perguntou a um suíço quando era “a apanha do relógio”, mais uma risada…porque conhecia a apanha da maçã, a apanha do morango e na suíça só podia ser a do relógio…


Oliveiroa - Muxia Dia dedicado à minha mãe e a todas as mães. A nossa amiga Sandra com tantos toques e truques no telemóvel conseguiu enganar-se e pôr-nos todos a pé às 4h30m da manhã (da noite). Agora não havia nada a fazer, toca a levantar e andar. Lanternas na cabeça, protecção para o frio e o vento, caminhamos serra fora, com o som permanente da água, que corria lá no fundo, sob o olhar atento de uma lua grande e luminosa… Não observamos as cores da paisagem, mas vimos os montes rasgarem o céu à luz de um sol que foi empurrando a lua para o lado de lá… momentos gratificantes no silencio das botas e do vento.
Chegados a um café, ai que bom um café, com café quente…eram 6h00 da manhã. A senhora, simpática, aconselhou-nos a ir primeiro a Finisterra e depois a Muxia, mas nós carregadinhos de razão e nariz empinado decidimos o contrário… se calhar não foi a melhor opção, mas toca a andar… Até ao próximo café, foram 5 horas de caminho a subir e descer. Às 11horas uma povoação, um café e como não era hora de almoço o senhor galego, bastante simpático e prestável presenteou-nos com grão de bico e mão de vaca que em galego é “gravanzos com pata de tenera” e vinho branco, um regalo para a alma e para o corpo.

Após o abastecimento e agora com um outro sorriso continuamos o caminho com a ansiedade de avistar o Atlântico, que nunca mais chegava…fomos apreciando a paisagem, monumentos históricos, espigueiros e quando avistamos o mar foi uma lufada de brisa marítima que nos encheu a alma, encheu-nos tanto a alma que numa descida com gravilha a Linda deu um tralho, assim daqueles com o cu no chão que nunca mais parava… a Sandra que se vinha a rir imitou a Linda…e parecia que ia de skate…os outros, toca a rir com o azar dos outros.
Avistamos Muxia e o Atlântico com todo o seu esplendor. Muxia está rodeada de água e praias, uma paisagem bonita, natural mas agreste e fria. Como nos enganamos, devido a deficiente sinalização, entramos em Muxia por uma praia, fomos ao albergue, novo, funcional, grande e cheio de gente de todo o lado.

Tratamos de nós e fomos para o centro de Muxia. Com o vento a ajudar-nos, passamos pelo turismo, para levantar a Muxiana, onde ouvimos uma longa explicação sobre como a Nossa Senhora que chegou aqui, numa barca de pedra, para confortar o Apóstolo, quando este estava desanimado com a evangelização…

Fomos ao santuário da Sra da Barca, avistamos as pedras da barca, a vela, o timão, o leme e o casco, no meio de outras pedras com outras histórias, cumprimos alguns rituais, mas do modo como os fizemos não sei se terão algum efeito…. repousei o corpo e a alma sobre o Atlântico num pôr-do-sol fantástico… que bom final de dia… fomos jantar e descansar.


Muxia - Finisterra Dia dedicado aos peregrinos e gente dos caminhos. Saímos de Muxia de noite e com o vento que nos recebera. Agasalhados, com uns enganos e desenganos, devido a deficiente sinalização, partimos para o que nos levou a estar ali, chegar a Finisterra. Um trajecto bonito e agradável entre o mar e a serra, com bonitas paisagens, em particular a passagem de um rio em Lires, onde, descalços, de pedra em pedra o atravessamos e nos refrescamo, numa brincadeira molhada de adolescentes divertidos… despedimo-nos das rãs e toca a andar… almoçamos num restaurante, mais à frente que parece ter sido posto ali para nós.
Pedimos o almoço e o vinho, e não contentes pedimos “bocadillos” a pensar que eram umas entradas. A senhora ficou assim com uma cara de admiração, mas foi para dentro, daí a pouco aparece-nos com umas enormes sandes de presunto e chouriço… bem, não fizemos grande figura em termos da linguística galega mas marchou tudo e de seguida o almocinho…ficamos como uns abades esticadinhos numas espreguiçadeiras que havia no exterior…aquilo não se faz ao peregrino.

A custo, muito custo, carregamos as mochilas e partimos…o caminho contínua entre a serra e o mar, chegamos a Finisterra, tarde e cansados. Encurtamos caminho e fomos direitos ao albergue e que bem fizemos porque os nossos amigos de Alicante já não tiveram lugar. Levantamos a Finisterrana, pousamos as coisas e eu, o tozé e a Olinda fomos mergulhar nas aguas do oceano e apanhar vieiras. A Isabel e a Sandra ficaram no albergue, até chegarmos e irmos todos ver o por do sol, um fim de tarde magnifico num lugar piscatório cheio de lendas, tradições e magia.
Jantamos muito bem e no bar Ultreya encontramos os amigos de Alicante. Regressados ao albergue fomos importunados por alguém que nos mandou calar pois queria dormir, já que assim era, eu e o tozé saímos e fomos ver o farol à 1h da manhã, bonito farol, só vimos uma luzinha lá ao fundo e andamos que nos fartamos… de volta ao albergue foi cair e dormir, mesmo com a luz de um poste da rua nas nossas cabeças, pois foi o lugar que nos arranjaram para pernoitar, o alpendre e que bem nos soube.

Os meus rituais diários Tal como no caminho Português, dormia já vestidinho com a roupa para o dia seguinte, a higiene da manhã fazia-a à noite, assim ao acordar estava prontinho para, após lavar os olhos, preparar o meu café instantâneo, com açúcar instantâneo e agua quente do chuveiro / lavatório instantânea, ou aquecer no fogão, caso houvesse. Comer um pão do dia anterior ou umas bolachas e fumar um saboroso ventilinho… sei que não o devia fazer, mas é o que está… e oferecia aquela jornada ao apostolo por alguém ou a por uma causa social, tal como o fizera no caminho português.

Finisterra – Santiago Acordamos a horas suficientes para apanharmos o autocarro para Santiago, viemos a dormitar e a observar a paisagem. Chegamos a Santiago, agradecemos ao apóstolo o estarmos ali, participamos na missa do Peregrino, almoçamos, e no carro do Tózé partimos para casa. Foi um caminho muito interessante e com sentido, feito com bastante esforço, alegria e amizade.
Só mais uma coisa...Tenho de voltar a Finisterra.
Obrigado Milinha, Francisco e Filipe por mais esta experiencia...

1 comentário:

Anónimo disse...

...a marinar há tanto tempo...daqui a pouco desfaz-se!!!
Bolhas